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Primeiros socorros psicológicos ganham visibilidade em tempos de pandemia

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Muitas pessoas já conhecem técnicas básicas de primeiros socorros para momentos de acidentes ou emergência, mas, durante um cenário de pandemia, outros procedimentos estão ganhando cada vez mais visibilidade: são os Primeiros Socorros Psicológicos (PSP), que consistem em protocolos de auxílio psicológico ao indivíduo que está vivendo um abalo emocional muito grande. 

Segundo a psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Santa Casa (FSC), Silvia Teles, a pandemia traz forte impacto biológico e psíquico e, portanto, é cada vez mais necessário que todas as pessoas tenham conhecimento sobre esse assunto. 

“Os primeiros socorros psicológicos podem ser conduzidos por qualquer pessoa. Não precisa ser psicólogo. Nessa situação de pandemia precisamos que mais pessoas possam prestar esse auxílio, já que se trata de algo de dimensão mundial, que gera um nível de impacto psíquico real”, observa. “Além disso, o abalo emocional é bastante subjetivo. Ele pode ocorrer em qualquer situação, seja na área de segurança, em hospitais, escolas ou emergências, seja por uma notícia impactante, um trauma ou qualquer outra fonte de estresse”, explica. 

De acordo com a especialista, o objetivo principal dos primeiros socorros psicológicos é proporcionar um suporte emocional que possa vir a diminuir a chance de ocorrência ou maior intensidade de estresse pós-traumático, buscando poupar os recursos psíquicos que o sujeito dispõe para lidar com a situação a ser enfrentada, tentando trazer a pessoa de volta à realidade na medida que lhe é possível no momento.  

“Em alguns casos a pessoa fica desesperada, agitada, chorando, mas, em outros casos, o indivíduo sai da realidade, se desconecta, fica desnorteado e perde a referência”, exemplifica. “O abalo psíquico pode deixar o sujeito sem conseguir falar, com tontura, anestesiado emocionalmente”, continua. 

Como proceder - Os primeiros socorros psicológicos são divididos em três passos, sendo o primeiro a observação do cenário. 

“O prestador do socorro precisa entender as condições de segurança para ir ao encontro do sujeito. Ele também precisa estar vinculado às autoridades de socorro e resgate para tomar as medidas de aproximação. É preciso observar o entorno e perceber se há as necessidades básicas evidentes de auxílio médico, resgate ou proteção contra violência”, alerta a psicóloga. 

De acordo com ela, o segundo passo é escutar e se mostrar disponível para ajudar. “Mantenha o tom de voz suave e incentive a pessoa a respirar vagarosamente. É importante não pedir para a pessoa contar toda a história. Não se trata de um inquérito sobre o que causou o sofrimento, mas sim de escutar o que está preocupando o indivíduo nesse momento. Não é a hora de pressionar a pessoa a falar dos seus sentimentos. Pedir para ela contar a história só faz aumentar o impacto”, pondera. 

O terceiro passo é aproximar a pessoa do momento que ela está vivendo para que ela possa ter fortalecimento e autonomia. “Pergunte o que você pode fazer para ajudar ela a se sentir melhor. Esteja disposta a auxiliar a pessoa na busca do que ela precisa, seja Informação, água, abrigo, alimento ou apoio de amigos e familiares”.  

Na Faculdade Santa Casa (FSC) o tema “Primeiros Socorros Psicológicos” é abordado na disciplina “Psicologia em emergências e desastres” que faz parte de um conjunto de disciplinas organizadas a partir do eixo de processos de prevenção e promoção em saúde. 

“É um tema muito novo, mas se trata de um conceito que vem para ajudar na qualidade da assistência, principalmente nesse momento de perdas pela Covid-19, onde a família dos pacientes não podem se aproximar ou realizar velórios. É um momento muito difícil”, lamenta. 

A psicóloga destaca também que o momento é de vulnerabilidade em diversos segmentos da sociedade. “Alguns exemplos são os formatos emergenciais de relações de trabalho, o home-office compulsório, os índices de desemprego, instabilidades nas relações afetivas e suspensão de perspectivas para o futuro. Prestar um primeiro socorro psicológico pode ser uma primeira medida simples e eficiente de acolhimento psíquico em prol da saúde mental nesse contexto”, enfatiza.