18h00

Coordenadora de curso de psicologia da FSC fala sobre elaboração do luto em tempos de pandemia

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A psicóloga e coordenadora do curso de especialização em Psicologia Hospitalar da Faculdade Santa Casa (FSC), Ana Clara Bastos, falou sobre a elaboração do luto em tempos de pandemia, nesta terça-feira (11), em entrevista à TV Aratu, afiliada ao SBT na Bahia.

Segundo a especialista, atualmente vivemos em um luto coletivo, já que desde o início da pandemia do novo coronavírus, indivíduos de todo o planeta passaram a conviver diariamente com as notícias de mortes, muitas vezes precoces e inesperadas, diante da imprevisibilidade da nova doença.

Segundo a psicóloga, o luto é uma reação a uma perda significativa e se trata de um processo saudável e necessário de adaptação à nova realidade.

“É um momento de transição psicossocial entre amar a pessoa na presença para amá-la na ausência. O processo de luto envolve a reconfiguração da relação, mantendo a vinculação e também permitindo aceitar a realidade da perda, se ajustando às mudanças e se abrindo para novos caminhos, vínculos e possibilidades”, explica.

De acordo com ela, não existe um tempo pré-determinado para a duração de um luto, nem este pode ser considerado uma doença.

“O luto não é uma doença a ser curada e nem um problema a ser superado. É um desafio, uma importante transição psicossocial que influencia diversas áreas da experiência humana: intelectual, cognitiva, física, espiritual, emocional e social”, pontua.

Ainda de acordo com a especialista, apesar de ser um momento normal e necessário, o luto pode fazer o indivíduo adoecer quando se torna prolongado.

“O luto é complicado quando há algo sobre o significado ou experiência da perda que é preocupante, de forma que a pessoa enlutada é incapaz de resolver. Nesses casos, muitos são os fatores que precisam ser avaliados. Em caso de paralisação, de risco à saúde ou de dificuldade de rede de suporte é necessária a busca por um suporte profissional capacitado para avaliação e acompanhamento”, observa.

Rituais simbólicos - Quando falamos de viver o luto, diversos recursos são construídos para o enfrentamento. Segundo a psicóloga, os rituais têm funções específicas e ajudam a dar sentido à experiência.

“Os rituais de despedida podem ter o papel de facilitar o processo de luto ao permitir o reconhecimento social da morte, o compartilhamento de pensamentos e emoções, o favorecer um espaço para dividir a dor e prestar uma homenagem ao ente falecido. O ritual é um momento rico de construção de significado e que tem relação direta com o processo de luto”, explica.

Em casos de mortes pela Covid-19, quando não é possível a realização de velórios e o caixão precisa ficar lacrado, a elaboração do luto pode ser prejudicada.

“Nesses casos, é preciso encontrar formas alternativas para amenizar e também para buscar outros caminhos de significação, de busca por sentido, de confronto com a realidade da perda e de apoio social. Muito está sendo feito no mundo virtual, como encontros, suporte social, trocas e homenagens que conseguem dar suporte no momento da perda”, enumera.

Para a psicóloga, diversos outros recursos são válidos nesse momento, a exemplo da espiritualidade, atividade física, trabalho, práticas de autocuidado, meditação, arte, além da psicoterapia, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e oferecer suporte para que o enlutado possa se reorganizar e seguir vivendo após a ruptura imposta pela perda.

Confira aqui a entrevista completa sobre o tema: